segunda-feira, 5 de setembro de 2011

UM OUTRO AMIGO



Meu amigo encontrou um outro amigo
Encontrou Deus
Desde então não para de contar recebidas bençãos
Ouço, pondero, ouço outra benção, uma atrás da outra

Deveria ficar alegre, mas entro para dentro de um quarto vazio e sem nada
A cada milagre, a cada palavra, tudo isso me fere, e não é Deus não é nada
É que meu amigo encontrou um outro amigo
Se tornou amigo das palavras

“Deus fez isso…Deus fez aquilo…Deus está fazendo aquilo outro…”
Ouço, pondero… Será que ele vai perceber? Parece que não
Cabisbaixo e com o olhar atento, sereno, respiração cadenciada e profunda
Permaneço ouvindo

E ele me recomenda, me instrui que o conheça também
Ouço, pondero, quase me desespero em quietude e calma
Será que ele vai perceber? Estou perdendo a alma…
Será que devo dizer? Não, meu amigo se tornou amigo das coisas eternas

Jamais ouviria um humano, aliás, o tempo todo estou falando
Mas ele não consegue me ouvir
É que meu amigo encontrou um outro amigo
Saiu daqui

“Recebi isso…recebi aquilo…”, mais uma vez ouço, me erro
Ateu, eu? Não, somente néscio. Perdido entre ventos e poeiras
Doído de um amor derramado, fracassado
Doído, suspirante, desistente, no fim, começo de uma nova…

Mas meu amigo encontrou um outro amigo
Desde então não consigo ouví-lo
Ele está cheio de Deus e vazio de si mesmo
Renunciou a vida e desapareceu

As vezes tento dizer palavras
Mas mais do que isso elas estão escritas em mim
Mas meu amigo encontrou um outro amigo
Desde então me acento sozinho quando me acento com ele

É que já disse, meu amigo encontrou outro amigo
Alguém aí me ouve? Me entende?

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

SE O FOSSE...



Não sou poeta. E se o fosse seria um que não descobriu a alegria. Nem mesmo se aprofundou na angústia. Seria um poeta medíocre. Escreveria poemas sem sorriso no rosto, aliás, mesmo não sendo nunca escrevi algo com sorriso nos lábios. Mas seria o poeta da tristeza, da arte. Do poema interminável, da angústia real mas muito mais da fantasiada. Seria o poeta do desastre, da amargura e do rancor. Não! Não incentivaria a nenhuma dessas, mas seria esse o eu poeta, o poeta eu. Seria o poeta que entrou mas que pede a Deus para que lhe ensine a sair. Que nasceu e não sabe como morrer. Seria o poeta das pedras nas mãos, "quem não tem pecado atire a primeira". Atiraria-as todas sobre mim. Seria o poeta da desesperança, sofreria a doença de nãonenxergar um palmo à frente de seu nariz. Seria um poeta morto. Seria um poeta das palavras, não levaria a sério nenhuma delas. Teria as obras como chacotas, chacotas a mim mesmo. Seria apenas das palavras. Contudo, não seria poeta do ódio. Seria o poeta do amor, porém não da paixão. A paixão é jovem, sedutora, sorridente, mas também nervosa, incontrolável, não pacífica. Não seria apaixonado, mas amável. Seria o poeta da paciência, do sofrimento diante do detrimento sofrido por cada pessoa. Seria o poeta da paz, nem guerra nem brigas, "brigar para quê se é sem querer?". Seria poeta da mansidão, da calma, da confiança. Seria o poeta do domínio próprio, sem insultos para com o próximo, nem deferimentos torpes que humilhem um ser tão pequeno como eu mesmo, nada de irritações descontroladas, nem vontade de se livrar das excitações traumáticas desencadeadas por um outro. Seria o poeta da cura, confiaria apenas em Deus como fonte, como ponte que leva para longe de toda essa loucura… Seria esse poeta dos livros fracassados, das páginas esquecidas, do esquecimento de si mesmo nas mãos de quem nem sequer creram. Seria o poeta em direção da Cruz, da coroa de espinhos, das três negações, das trinta moedas de prata, da fuga mais descomedida. Seria esse poeta, inteiro e sem nada.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

SEM MUROS, SEM TETO

CORAÇÀO DE BANANEIRA

 

Debaixo desse bananal

Há várias igrejas em uma catedral

Catedral sem muros, sem teto

Igrejas que ladrões não roubam e nem as traças corroem

 

Debaixo desse bananal

A alegria é completa

No Nome que está sobre todo nome

Em quem qualquer lugar é lugar nenhum

E é lugar de culto ao Pai

 

Debaixo desse bananal

As folhagens se alegram pelos filhos de Deus

Essas igrejas ambulantes

Que são ao invés de terem

 

Debaixo desse bananal

Estão os templos que hora vem, hora vão

Não tem fixidez, e são vento

Soprando onde o Espírito quer

 

Debaixo desse bananal

Os anjos se acampam, os céus se alegram

Há júbilo, Graça e Paz!

Há culto sem endereço, sem placa, mas corações em joelhos

 

Debaixo desse bananal

Há um entra e sai

Só não há portas, nem entradas, nem saídas

Há a Vida, o Dom da Graça, O Príncipe da Paz

 

Debaixo desse bananal

Ninguém fica, ninguém se vai

Apenas encontra pastagens em outros lugares

Seja debaixo de uma pitangueira ou no meio de um milharal

 

Debaixo desse bananal

Não há bandeiras, nem tribos

Há apenas A Boa Nova

A Boa Obra: A Reconciliação

 

terça-feira, 3 de maio de 2011

ERA UMA VEZ… E PARA ONDE FORA?

adeus

Era uma vez uma noite calma. E confesso que as noites já eram calmas há muito tempo. Nenhum sinal de companhia próximo ao coração, nem um canto, nenhum barulhinho sequer, às vezes apenas o próprio suspiro.

Era noite, diria que foi um natal fora de época, também atemporal, nada de papais noéis, nada que coubesse dentro do tempo. Eram coisas da eternidade e não daqui. O reascender de uma esperança enchiam meus olhos de alegria, e também de lágrimas. Havia já um tempo que vinha aprendendo a rir mesmo tendo lágrimas nos olhos, algumas vezes faltava o sorriso.

Naquela noite conheci o espírito de uma criança, terno, acolhedor, leve… Eram coisas da eternidade de fato, o tempo passou a correr diferente, e de certo que nem sei se ele corria ou se ao menos existia naquele instante, o fato é que para mim pouco importava como pouco importou.

Era um espírito bom. Fiquei contente com tudo aquilo, de súbito as noites já não eram tão calmas próximo da alma. Havia uma festa sem euforia e uma estranha paz embora houvesse ainda o medo. Mas era melhor ir em frente do que ficar escondido por detrás daquelas antigas grades que tornavam tudo mais seguro, solitário e sombrio.

Ah! Brincamos muito, nos divertimos um bocado, nos tornamos de fato amigos! Era tempo de alegria, nada de choro, nem angústia. Era tempo de riso, de descanso, de leveza.

Um bom tempo se passou e sem entrar em detalhes do que aconteceu nesse meio tempo aquele espírito foi ficando adulto, um tanto grave, pensativo. Vi que não era mais aquele espírito um espírito de criança, tornara-se “grande”.

Mas permita-me voltar lá no começo. Esse espírito tinha bons olhos, nada via, nada enxergava. Não era cego, era que tinha bons olhos. Eu era um mendigo, pobre, cego e nu, mas esse espírito nada disso via, nada disso enxergava. Para ele eu era muito mais que isso. Talvez um milagre, ou então um presente de Deus, ou ainda um alguém de Verdade como nenhum outro o podia ser.

Ah! Verdade é que eu amava tudo aquilo. Me via nos olhos de pura Graça, pura alegria para aqueles olhos era me ver ali por perto. Eu é que não queria perder aquilo nunca, era a eternidade acalentando longos dias de suspiros ofegantes.

Então, aquele espírito se tornou adulto e ficou cego. Começou a ver e a enxergar. Agora, diante daqueles olhos, eu era aquele antigo mendigo, pobre, cego, e nu. Não mais me via nos olhos de pura Graça, aliás, Graça já não havia mais. Minha mendicância era olhada com altivez; minha pobreza com olhos de juízo; minha cegueira era motivo de chacotas que escapavam por meio da feição; minha nudez vista com desprezo e desgosto.

Ah! Para onde foi aquele espírito que encontrei naquela noite?

terça-feira, 22 de março de 2011

PERDI AS ESTRIBEIRAS

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Hoje perdi as estribeiras,

a calma,

a atitude serena

 

Fui logo me enchendo de mágoas

(se é que já não estava cheio delas),

estiquei as canelas, 

preparei o sapato, foi um bicudo no ato

num portão de lata, aparentemente fechado

provavelmente  trancado

 

Hoje perdi a singeleza,

ganhei a tristeza e um pé machucado.

Matei-me na raiva,

perdi a alma e ganhei uma dor.

 

Dessa vez não pôde ser apenas dor subjetiva,

aquela que as vezes se torna até tranquila

e de repente parece um viciozinho de querer doer.

 

A dor também foi no osso

devido o coração desse moço

não ter conseguido dizer a você:

 

Queria trazer-lhe ao presente

o presente de te dar o melhor de mim,

mas as vezes esse melhor custa dinheiro

e me sinto beirando o desespero envergonhado por inteiro

por ser vendido tão barato assim.

 

Tento disfarçar o desajeito,

é que sem graça desse jeito

é difícil dizer que a situação está ruim.

 

Você sorrindo exuberantemente,

inteiramente contente

e eu sem um tostão de dim-dim.

 

Se preciso for eu roubo numa farmácia,

numa padaria ou algo assim,

é que nunca fui malandro, não sei ser ladrão de banco,

na verdade pouco sei cuidar de mim.

 

Mas te daria tudo que pudesse

pra manter seu sorriso contínuo,

seu olhar sempiterno,

seu coração descansado em mim

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

QUERIDO DIÁRIO - uma sátira diabólica


Adoro ver gente do "Evangelho da Graça"! Sim, é muito interessante ver como pregam o Amor. Ah! As boas obras parecem boas mesmo. Gostam de ajudar o necessitado, ouvir com paciência o de coração estranhamente contrito, enfim. Mas é muito mais legal ver as atitudes com os cônjuges, com os pais, os filhos… Ah! Isso sim é divertido! É uma raiva e falta de paciência de causar aqueles risos de canto de boca. Ah! Que maravilhosa estupidez! Agora sim fica divertida a pregação! E deve ser para a diversão mesmo, só pode. Vai me dizer que estão falando sério!? Ah! Por Deus, eu seria mais sincero e menos cínico. E dizem que eu é que sou um Diabo. O raio que os parta!

Mas adoro! É melhor do que programa de TV, muito melhor. Detesto novelas, mas essas, do "Evangelho da Graça", eu amo. Divirto-me mais do que nos filmes de comêdia com o Leslie Nielsen. É ligeiramente curioso o "Amor do Pai". É como se Deus fosse cínico também, Ele perdoa tudo justamente para ver seus filhos pecarem mais, e ainda depois se ri disso tudo como naquelas frases populares "no dia seguinte a gente ri disso tudo". Imagino Deus com uma cerveja na mão, meio entorpecido pelo álcool, assentado à mesa, numa casa qualquer, junto aos "pecadores" (que no caso são os que se baseiam nesse "Evangelho da Graça" para serem "pecadores") rindo e conversando alto coisas do tipo "Ah! Eu vi aquela gata que tu pegou ontem, malandro! Ah! Eu te amo Joãozinho, como eu te amo! Depois de ontem, até passei a te adorar para falar a verdade!"

Melhor! E quando falam da transformação que esse tal "Evangelho" causa nas pessoas! Isso sim é curioso e divertido! Dizem um monte de coisas belas! "Amor, mansidão, domínio próprio, paz, alegria, bondade…". Ah! Comovo-me de fato com tais palavras. Chego até a chorar lágrimas de arrependimento. Ah! É lindo, meu Deus perdoa o seu querubim caído! Mas de repente… Oh! Bebedices, luxúria, inimizade…! Ah! Logo enxugo minhas lágrimas e começo a sorrir novamente! Por pouco meus pés não se desviaram e eu me converti. Mas me ficou um "Q" na mente, a pergunta inicial: Afinal, que transformação que causa esse tal "Evangelho" no ser humano? Ah! Que eu carregue esse povo! Ops! Que o diabo carregue esse pessoal. Deve ser uma piada, só para descontrair mesmo. Esse pessoal tem características cômicas, é bom me lembrar disso.

O mais legal ainda é a "carapuça" que serve em todo mundo. Ah! Essa é incrível! Todo mundo é pecador e humano, por isso a carapuça serve para todos. Só ainda não entendi o porquê que riem da carapuça e fazem um culto a ela. Talvez não estejam rindo dela, mas para ela. Ah! Vai saber! Quero mais é me divertir! Se for para a carapuça ser adorada, vamos todos juntos, afinal, eu também estou nessa! Mas o que oferecem para o deus ou a deusa "Carapuça" (até que podiam inventar um nome melhor para tal deus) é tragicômico. Oferecem os frutos da carne! Como sei? Ah! Os sei de cor na minha alma (se é que os seres humanos sabem o que é isso: alma), todos eles! Só não sei ser tão cínico! Deus não deveria ter sido tão cruel comigo, olha só para os Dele!? Ah! Mas não tem importância, eu os acho adoráveis, mesmo!

E quando falam sobre a entrada nos céus, confesso, aí já é demais. Devo eu falar a verdade para esse povo? Ops! Ah! Quase me cedi à tentação! "Deus pagou tudo" dizem eles! Não entendo bem! Deve ser que Ele pagou as condições para a festa: As bebidas, comidas… meretrizes! Tem hora que fico meio encabulado. Tudo bem que quis o Trono, mas se Ele tivesse me mostrado esse lado Dele e me desse uma festa dessas… Ah! O último lugar onde quereria estar seria o Trono. Brincadeirinha! Ainda prefiro o Trono, na verdade até daria duzentas mil festas dessas por ano só para me manter no Trono. Se for só isso que querem, posso dar esse reino aos humanos!

Dizem que meu nome significa "acusador"! Ah! Eu é que não acuso ninguém, na verdade, adoro todos esses!

Sem mais...

O Diabo

DE TUDO QUE SE DEVE GUARDAR, GUARDA O TEU CORAÇÃO


Fazendo uma breve restrospectiva, não só a de um ano, o anterior, mas de toda a vida até aqui, me chama a atenção os tempos de infância. Até mesmo os desenhos da tv que assistia quando menino, os jogos de vídeo game. Parece engraçado, mas os desenhos e joguinhos prenunciavam uma vida que haveria de vir. Uma existência cheia de monstrinhos a ser enfrentados e destruídos para que o bem reinasse. Por vezes aparecia aquelas figuras que creio que todos já conhecem, a figura do diabinho de um lado e o anjinho de outro. O diabo sempre dando conselhos para o mal, e o anjo dando conselhos para o bem. O diabo sempre imediatista, incentivava o prazer do momento; o anjinho recorrendo ao pensar com cuidado no que se estava fazendo, se era mesmo uma boa opção. Tudo isso me parece um prenúncio da vida adulta, só que, ao que parece, agora, o Diabo quer transformar o ser humano nele mesmo, e o "Anjo" quer livrá-lo dessa escravidão, ou desse marionetismo nas mãos das "forças do mal".

Muito se vê por aí, pelas ruas, ou mesmo pelo cômodos da própria casa o Diabo dizer "Eu" nos lábios e nas ações de um familiar, de um conhecido qualquer. O diabinho parece sempre convencer uma pessoa de que a opção dele é sempre a melhor, a de ser "o carinha do mal", a "mocinha do mal", jamais ser os "sem graça" que fazem o bem. As histórias da infância se remontam dia após dia de amadurecimento. Sempre existe uma "turminha do mal" tentando convencer a todos de que o amor é uma mentira, que o poder é melhor, que todos são maus e por isso não vale a pena fazer o bem a ninguém. Existe sempre o lado das trevas e o lado da luz. O lado das trevas pregando o ego, o da luz pregando o amor ao próximo. E é assim que vejo após anos, as mesmas historinhas da infância, mas agora em tempo real e em pessoas reais.

E onde quero chegar com o que estou dizendo? Perdoem-me o linguajar, mas os ditos "Babacas" ou "Idiotas" são todos esses humanos que vão contra o amor e se centram em si mesmos em louvor ao Ego. Esse é o lado negro da força e que existe mesmo. E não precisa ter um olhar tão apurado assim. As invejas, as disputas, os egoísmos, as mentiras, a indiferença, o ódio, tudo isso entre pessoas bem próximas da gente. Não é necessário pensar na indiferença dos E.U.A. em relação ao Iraque, mas nessa indiferença que percorre os corredores mais próximos da gente e na gente.

E essa massa de gente ruim leva consigo muitas pessoas suscetíveis, e influenciáveis. O problema é que em alguns momentos até as boas pessoas se encontram em momentos suscetíveis e influenciáveis, e podem cair nas mandíbulas dessa gentinha. E é aí que muita gente boa faz a vontade do diabinho que fica assoprando no ouvido. Muitas vezes é o diabinho mesmo quem fala, mas na maioria das vezes é o Pedrinho, o Joãozinho, o Manésinho.

De tudo que se deve guardar, guarda o teu coração, é dele que procede as fontes de vida. Queira tudo o que é verdadeiro segundo a Verdade do Amor do Pai que Consumou todas as coisas sob o Poder da Cruz, um poder que não é como a vontade de poder humano, mas um poder que é sob o sígno da redenção, reconciliação, perdão, e um Amor que excede a todo o entendimento.

Queira tudo que é honesto. Dê aquilo que é do outro ao outro, sem reter para si mais do que aquilo que de fato lhe pertence. Diga com sinceridade e sem defesas egoístas o que se deve dizer, assuma o que é seu e não reporte isso para um outro. Seja honesto consigo mesmo, honestidade é sanidade na alma.

Queira tudo o que é justo, tudo o que vem do Pai das Luzes, do Pai de Amor. Queira o que é fruto do Espírito: Amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Contra essas coisas não há lei, pois tudo quanto houve lei, foi para estabelecer a distinção entre o que é mau e o que é bom. Mas tais coisas, os frutos do Espírito, pode ser praticado sem medida nem restrições. O Amor é que cura todas as coisas.

Queira tudo o que é puro. Tudo o que é Amor, tudo que provém do Amor. Acima de tudo, Deus escolheu habitar o ser humano, por isso ele é templo de Deus, é onde Deus está. E se Deus o quis habitar sejamos reverentes quanto a isso, quanto ao ser humano, o tratando sem negligências nem indiferenças.

Assim queira o que é amável segundo o coração do Filho que revelou o Pai em si mesmo. Queira o que é de boa fama, mesmo que bom seja aquilo que o Pai deu aos homens e por muitos fora rejeitado. Se há alguma virtude, que essa virtude seja operada pelo Amor e não somente pelo desejo de fazer boas obras, obras eternas só são feitas mediante o Amor, do contrário qualquer obra é a mesma coisa, sejam boas ao más, embora as más ainda sejam piores.

"Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus... Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem."

E que tudo seja para o louvor do Pai, que É Amor.

Com temor e tremor.

SOBRE SONHOS E HIPOCRISIA

Hipocrisia! O que significaria isso? No meu contexto, hipocrisia é pregar aquilo que não se vive. Falar mas não fazer, aconselhar mas não mover uma palha para praticar o que se aconselha. Isso seria a definição de hipocrisia, como me foi ensinado.

Nesse sentido, todos os seres humanos são hipócritas, sempre há algo em cada um de nós que não pode fazer parte do que chamamos de "mundo real", ou "realidade". Nesse sentido, todos nós estamos entregues a esse mal, a hipocrisia!

Mas me permita uma breve explicação, aliás, não é explicação, não pretendo explicar nada. Mas permita-me dizer-lhes algo.

Tenho sonhos maiores do que eu mesmo. Ah! Perto deles, sou um grãozinho de mostarda. Eles são grandes, belos, altos demais para que os possa alcançar. E eu canto e conto tais sonhos a todos que encontro pelo caminho, e falo sobre as coisas mais belas, sobre a vida que há em tais sonhos, sobre a ternura, o amor que há nesses sonhos. Os lagos infindos mesmo tendo um metro de diâmetro. Novos homens e mulheres, todos possuem asas, e voam sem sair do lugar, para lugares que nem mesmo uma fênix poderia chegar, senão apenas Deus. Aliás, Deus habita tal lugar, o lugar para onde vamos quando sonhamos, e sonhando nos encontramos com ele, chegamos ao lugar onde ele habita, e se alegra.

Esse lugar é feito de alegria, alegria eterna. É feito de uma paixão incomensurável. Cada fruto é fruto de gratidão, gratidão pela beleza da vida, de viver, de estar apaixonado por cada raio que emana do Sol da Justiça na direção de todos.

Esse lugar é feito de bondade, e o "outro" é sempre maior do que o "eu", e assim todos são reis, todos são cidadãos comuns na pátria celestial. Todos são mestres, todos são aprendizes. Todos amam, e todos são amados, e melhor é dar amor que receber amor.

Esse lugar é feito de coisas celestiais, de coisas eternamente ternas e doces. Não há ódio, não há disputa, não há humilhação, não há intriga nem fofoca, não há palavras que matam, não há a razão que humilha, não há maior e nem menor. Não há outra coisa senão o mandamento do amor. Não há mandamento, há somente o amor.

Nesse lugar não há intelectualismo, há apenas paixão.

Eu apregoo à pessoas sobre esse lugar. Conto tudo isso para os que conheço e os que venha a conhecer.

Ah! Esse lugar feito de pessoas sãs, bondosas, amáveis, que não são dominadas pelas pulsões, nem pelas emoções. Esse lugar feito de vida, e não há mais morte. Pessoas cheias de vida, e já não matam nem machucam o "outro".

Essa é minha pregação.

Permita-me continuar. Se não sou ainda esse ser que chegou ao alvo, perdoe-me, não estou sendo hipócrita! Apenas não cheguei lá, não fui transformado plenamente naquilo em que sonho ser, e sei que ainda que sonhe serei supreendido quando lá chegar, pois nem olhos viram e nem ouvidos ouviram e nem jamais penetrou em coração humano a imagem perfeita de tal ser, ou lugar.

Ah! As vezes sou tão estúpido, tão estúpido...! Tão vil, tão mesquinho e egoísta! Mas não é hipocrisia, não é hipocrisia! Não, não é!

É que ainda falta um espaço de tempo entre o temporal e a eternidade. Existe um espaço entre o espaço que existe entre o corruptível e a incorruptibilidade. Há um espaço que não posso mensurar entre o aguilhão da morte e a vitória da vida indestrutível.

Perdoem-me meus amigos! Não é hipocrisia! É que ainda não sou aquilo que O Eterno me predestinou para ser antes da fundação do mundo. Estou indo, caminhando nessa direção, como quem sonha e não pode se esquecer que ainda não se chegou lá para que a angústia e o desespero não se tornem meus companheiros de caminhada. Lembro-me do grito, da promessa, "Está Consumado", e assim vivo confiante, pela fé faço meu hoje e deixo que seja feito pela vontade Dele.

Não avistei ainda aquele lugar, nunca fui até lá (se fosse, certamente não voltaria). Não sou aquele ser belo como apregoo que serei.

E não é hipocrisia ainda não poder viver tudo isso, e ser tudo isso. É esperança, é confiança, é a loucura da pregação.

Se ainda não encarno tudo o que digo, é sinal que tenho ainda que levantar cedo e pegar a estrada em direção do sonho que ainda não se consumou plenamente.

É só isso.

SE O GRÃO DE TRIGO NÃO MORRER



Por vezes, sinto perder a vida. Mas aí me encontro numa contradição, num paradoxo, ou ainda, num auto-engano. No engano de possuí-la. Então vejo-me na verdade ancorado no nada, na ingenuidade de tê-la em minhas mãos. É aí que me pego tomado por um sentimento falso, que não deveria existir, um sentimento auto-criado. O fato é que não a tenho (a vida), sendo assim não a perco.

Reflito sobre tal sentimento. Não há razão nele, não há paixão nele. Há apenas uma ingênua sensação. Como um menino que se sente o centro do universo, e sente seu universo como o centro de todos os outros.

Como o grão de trigo me desfaço, não sem dores. E o que perdera de fato? Perdera a prepotencia, a auto-suficiência, o egocentrismo. Perdera o que me fazia estar firme de mim mesmo. Abrira as portas para os raios do Sol da Justiça, para a Vida que há Nele, e só Nele.

Ai de mim se não morrer! Seria como um grão de trigo, solitário e egoísta. Perdido no meio da terra, sem raízes, nem ramos, nem folhagens, nem frutos. Não teria nada para me alegrar com o outros, não teria nada para compartilhar com alguém. Não teria vida em mim, e não poderia dar vida a nada nem ninguém.

Mas como disse, não se chega aí sem dor. Não é sem dor que se percebe que houve medo por um bom tempo de perder aquilo que não tinha. É como se me fosse dado um dever de defender um terreno, e nesse terreno o tesouro mais precioso de todos. E então, vindo os ladrões, me assaltam, e cavam, e procuram, e não há tesouro e não há nada além de um vigia e seu terreno vazio. Alarme falso.

Deixado desarmado e jogado ao chão, tento me recompor. Mas onde está o meu tesouro? Há apenas um silêncio ensurdecedor do lado de dentro. E tempo, e vazio, e mais tempos e mais vazios.

Leva um tempo para dizer, parafraseando o salmista, "o meu tesouro vem do Senhor que fez os céus e a terra". Leva uma era interior para dizer "Hosana". Muito se quer gritar "eu consigo", "eu posso", "eu". Mas vindo os ladrões tragos pelo sopro que é a vida, pelo tempo, pelo espaço, vindo o silêncio como resposta do coração diante a indagação feita, vindo o absurdo da debilidade do existir... Vem então esse "Hosana" como um canto em meio a dor. Esse canto que nasce como temor e tremor pela pequenez e efemeridade da vida. Então abri-se as portas para o Eterno. Hosana! Hosana! Hosana! Um ruidoso e inexprimível "Hosana".

Não possuo a vida. Não a encontrei de modo que a saiba explicar, ou mesmo de forma que a posso ensinar ou mesmo recomendar. Mas sinto uma estranheza enorme de que estou sendo encontrado por ela e levado por ela como árvore plantada junto a ribeiros. E me esforço para não ser distraído por outra coisa que não seja ela. E também não é sem dor tal esforço. Por vezes é necessário arar esse chão sozinho. Semeando com lágrimas, colhendo os feixes como os pés descalços e feridos.

Não sei o que é a vida. É ela que sabe quem eu sou. E mesmo assim Ela me chama o tempo todo a acentar-me à mesa, comer, beber de graça. Ah! Mas não é sem dor que vou dando os meus "Hosanas". Não é sem esforço que vou indo em direção dela à medida que ela me chama e se mostra como vida.

Não penso para mim que a vida seja algo fácil de se encontrar. Depois de tanto tempo concluo que ainda não a achei. Achei pelo menos o caminho contra ela, o caminho de pensar obtê-la.

Assim me desfaço de toda aquelas crendices que me foram dadas e que ingenuamente me atirei de cabeça. Acreditei como a criança acredita em cada fantasia.

Agora Ela me chama a ter um encontro com ela. Só tenho meus pés descalços e as mãos um tanto calejadas, um coração contrito e quebrantado, e também algumas lágrimas que sei que irei ainda derramar.

"Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto".

MEU AMIGO, ALGUMA COISA ESTÁ MUDANDO

Alguma coisa está mudando meu amigo E não sei bem o que é Mas se lembra quando tudo apenas se repetia Então mudanças já são boas...