domingo, 23 de dezembro de 2012

“…PARA O BEM DOS QUE AMAM…”.


velas

“Tudo coopera para o bem daqueles que amam[…]”. (Citação livre de Rom. 8:28).

Sim! Estava pensando nas coisas que amava em você e nas que odiava. Percebi que ou se escolhe amar ou odiar, não há como se ter um tendo outro: Ou isso, ou aquilo. Comecei pensando sobre os elementos poéticos, ou pelo menos os elementos com os quais, facilmente, se faz uma poesia: teus olhos, teus olhares, tua boca, teu rosto. Sim! Facilmente poderia descrever com detalhes o que cada uma dessas coisas significam pra mim. Ah! Daria um belo poema. Em contrapartida pensei no que poderia odiar em você. De certo me veio um silêncio racional do qual parecesse sem solução. Como poderia te amar por um lado e odiar por outro? Pensei nos teus mais indelicados atos, palavras, gestos, olhares, expressões. Pensei na tua distância, teu afastamento, tua ignorância, tua indiferença. Veio-me somente a ideia do amor, em todas as coisas. Não fez sentido dizer que amo algumas e odeio outras. O único sentido que fez foi que todas as coisas cooperavam para a única coisa que faz valer a pena todas as outras: O amor! Não há uma parte sequer de você que eu não ame. Suas temperanças e intemperanças; seus jeitos e desajeitos; seus sorrisos e suas “caras fechadas”; seu bem e aquilo que entendi que não é o seu mal. É o conjunto dos arranjos que tornam o jardim selvagem e delicado. Selvagem e delicado podem criar um tipo de paradoxo (embora seja apenas frutos do amor, e fruto também de más interpretações, sem paradoxos algum), porém Amor e ódio criam apenas um tipo de mentira, não são faces de uma mesma moeda, jamais caminham juntos. Amo-te por completo. Decidi amar-te por completo. Quero amar-te por completo. E não são repetições. Cada frase tem seu tom, e seu dom. E nisso não há mal algum que seja mal por toda a vida, o amor tem a antiga mania de transformá-lo em bem, e jamais deixa que o ódio tenha uma chance de colocar sequer um tijolinhozinho nessa bela construção que é o amor. O amor aceita que o deixe, mas jamais aceita que em sua construção seja agregado algum tipo estranho de liga, cimento, ou cola que não seja feitura do próprio amor. Assim, amo-a com tudo o que és. Simples assim. É o amor que salva toda essa existência, e não há nada que possa ir contra ele, pois ele faz como o ourives que trabalha o ouro para que ele tome a forma mais bela. De fato, tudo coopera para o bem dos que amam.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

PAIXÃO E ALGUMAS DIALÉTICAS; E TAMBÉM PERDAS.




Certo jovem se apaixonou pela “Princesa de seus sonhos”, era como ele a chamava. E ele a seduziu com a paixão que nele havia. A levou aos lugares onde se encontram apenas os que se apaixonam: Às juras de amor. Prometeu-a alegria e felicidade, e também filhos; desse modo caminhou na esperança de cumprir tudo o que a havia jurado. Trabalhou arduamente. Com dificuldades construiu sua casa, exatamente como ele sabia que era o gosto dela. A paixão do jovem determinou seu modo de caminhar. Caminhava absorto como que se estivesse num sonho incomunicável. Alguns o reputavam “louco”, outros apenas “apaixonado”. Ele não sabia o que era isso ou aquilo, apenas fazia seu caminho, na direção do seu amor, movido pela sua paixão. Casou-se com a “Princesa de seus sonhos”, deu a ela uma simples e aconchegante casa, e também deu a ela filhos. E se amaram por uma vida inteira sem perder o movimento da paixão que determinava seu caminhar.

Certo jovem se apaixonou pela “Princesa de seus sonhos”, era como ele a chamava. E ele a seduziu com a paixão que nele havia. A levou àqueles lugares onde só os apaixonados podem chegar: Às juras de amor. Prometeu-a paixão, alegria, filhos. Seus olhos estavam cheios de vida, e se enchiam mais ao olhar para ela. Os olhos dela, porém estavam cheios de vazio, e vez ou outra pareciam marejar. “Eu não posso ficar!” disse sua amada, “Tenho negócios a resolver, e a vida, tu o sabes, não permite entregar-me aos anseios de uma paixão”. O jovem enegreceu seus pensamentos. Construiu solitariamente uma casa para si. Mas não tinha gosto em nenhum daqueles tijolos, nem em toda aquela construção. Às noites saia solitário, coração doído e uma andar sôfrego. Desistiu do amor. Acreditou que ninguém o entenderia. Viveu silenciosamente todos os dias de sua vida. Bebeu bastante, leu alguns livros para fazê-lo companhia, saiu algumas vezes sem poder negar a solidão. Assim morreu após ter vagado perdido e sem esperança, por ter sido-lhe negado os deleites de se viver junto à sua amada todos os dias de sua vida.

Um jovem se apaixonou pela “Princesa de sua vida”, era assim como a chamava. Seduziu-a com a paixão que nele havia. Ela se apaixonou por ele, e assim foram levados aos lugares que só os apaixonados vão: Às juras de amor. Construíram para si, em pensamentos, casas, alegrias, filhos. Amavam-se juntos, e juntos se amavam. Um anjo dos céus então o visitou e disse a ele: “Meu jovem! A notícia que trago é de muita dor para mim! Três vezes refleti e me exercitei em compreender essa missão. Olhava para os meus companheiros mensageiros e os olhares deles para mim eram de compaixão e incompreensão. Meu jovem, a sua amada lhe será tirada em muito pouco tempo, em exatos 29 dias”, e não pode mais falar, pois o olhar do jovem o esmagou pela falta de expressão que deles brotaram, o anjo não o pode compreender. O amante não construiu casa, esquivava-se sofrido todas as vezes que ela falava dos filhos e da alegria da casa dos então amantes. Ele viveu poucos dias com ela, dias sombrios de uma dor incomunicável. Perdeu-a dentro dele muito antes dela partir, na verdade, exatamente aquele anjo tirou-lhe dele o brilho dos olhos. Viveu sem nada, nada construiu, fez poucos amigos, não foi a muitos lugares. Enterrou a vida por não compreender a morte.

Um jovem se apaixonou pela “Princesa de seus sonhos”, era assim como ele, apaixonadamente, a chamava. Seduziu-a com a paixão que nele havia, e o brilho dos olhos dele quando olhava para ela a encantou. Prometeu-a alegria e felicidade, e também filhos. No entanto, ela disse que partiria para uma terra longínqua sem data para voltar. Ele naquela hora soube que deveria guardar sua paixão, talvez em algum livro de contos inacabados. Viveu com ela alguns dias antes de sua partida, e aqueles dias já não foram como os primeiros: seus olhos já não brilhavam mais.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

…Em vão. . .

soutomoura
Vão. Em vão semeei. Em vão corri.
Vão amor, vã paixão. Vão desejo, vã razão.
Tudo nasceu e morreu. Em vão nasceu-se,
Nasceu-se em vão no coração, morreu, tudo em vão.

O tempo, o maior bem dos mortais.
Em vão se contam as horas. Em vão se guarda moedas.
Em vão se trabalha. Em vão se acorda. Em vão também se deita.
Vã é a alegria, vã é a tristeza. Vã é a feiura, vã a beleza.

Em vão se fala. Em vão se faz. Em vão termina esse mundo.
Em vão ele passou a existir. Vão tudo aquilo que senti.
Vão tudo o que vivi com você. Vão tudo o que vivi sem você.
Vão o início, o meio e o fim. Vãs filosofias, vãs metodologias.

Vão tudo o que foi feito, vão tudo o que ainda está por fazer.
Em vão insurgiu-se a história, em vão caminhamos juntos.
Em vão cantamos juntos, em vão nos abraçamos.
Em vão demo-nos beijos curtos ou demorados.

Em vão pensamos no futuro. Em vão remoemos o passado.
Em vão vivemos o presente.  Em vão tudo o que é novo, tudo o que é velho.
Em vão tudo aquilo que não sabemos. Em vão procuraremos. (Em vão passaremos a saber)
Em vão tudo o que comemos, tudo o que vomitamos.

Em vão se entra, em vão se sai.
Em vão se sonha. Vã são todas as realizações.
Vão o quente, vão o frio. Vã é a solidão. Vã é a companhia.
Vã solidão, vã companhia.

Vã foram todas as lágrimas. Vão todos os sorrisos.
Vão foram as dores no peito. Vã sofreguidão.
Vão foi ter visto-a. Vão seria jamais ter te conhecido.
O relógio caminha para o vão. Vãos ponteiros.

Vão todos os risos. Vã foram todas as festas.
Vã resultou a bebida. Vã foram as brincadeiras.
Vã todas as cantigas de roda. Vão todas as saudades.
Vão toda a vida. Vã toda a verdade.

Te amo em vão. Te odeio em vão. Em vão te quero, em vão te deixaria.
No vão dessa poesia (vã poesia), é onde te tenho. Tenho-te em vão (vão é ter, ser também é vão)
Em vão iremos juntos, para o vão de tudo isso. Em vão beijarei seus lábios,
Em vão sentiremos prazer. Em vão construiremos toda essa história.

E o que é a história senão um vão? Uma desvanecência,
o andar de pés que caminharam em vão e em vão não existem mais.
Correremos em vão, caminharemos em vão. Tenho essa consciência(vã consciência).
Vão será tudo o que vivermos, vão já é toda a existência.

Ei! Quero ir com você! Para qualquer vão lugar, qualquer estrada vã.
É em vão que nos amamos. Será em vão que continuemos juntos.
Em vão teremos nossos filhos. Em vão iremos no parque.
Em vão almoçaremos juntos numa tarde de terça-feira.

Tudo em vão. Tudo em um vão escuro e sombrio e triste.
Também o escuro é vão, também os encontros.
Vou com você, ou sem você. Tanto faz, tudo será certamente em vão.
Em vão te amo, amor em vão.

Você vem comigo? Também será em vão.
Você vai sem mim? Vã é tua ida. Vã a tua partida.
Vã a tua presença. Vã a tua ausência.
Vão o teu amor, ou teu desamor.

Em vão te amo. Em vão me amas.
Em vão discutimos, em vão queremos ser amados ou amar.
Vão termos começado tudo isso.
Pois o amor resultou em vão.

Dizemos que sim, mas na verdade não. Temos medo, este é o que torna tudo em vão. Vã é a coragem.
O Medo fez do amor um vão. Medo de não ter, de não ser.
Medo que seja vão o amor. Mas o amor é um vão.
Para que ter medo? Ter medo também é vão.

sábado, 14 de abril de 2012

escrever

Quando tento dizer sobre a intensidade do que sinto por você
De repente não sei o que sinto
Então digo que te amo.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

MENINA…! SEUS OLHOS…

ui (2)

Seu rosto sorri… assim como seus lábios se esticam de alegria.
Assim como seus dentes se tornam exuberantemente formosos de felicidade
Suas sobrancelhas timidamente são gratas por sorrir com você
Todo seu corpo sorri, até mesmo seus ombros se contraem
Seu queixo se afina, a maçã do seu rosto de enche do seu sorriso
...
Mas seus olhos… Ah! Seus olhos! Solitários se recolhem em meio a suas pálpebras. Estas ainda tentam animá-los. Mas eles despistam. Lançam um brilho para além de si, mas neles transparecem algo ainda mais profundo. Algo que o rosto inteiro não compreende. Então sua face convida-o, incentiva-o a entrar nessa alegria na qual todos os seus membros se alegram. Se suas mãos pudessem falar (e falam) diriam aos seus cílios que não era hora para se mostrarem tão eufóricos, não precisavam ter se embelezado tanto assim, pois seus olhos estão à parte de todos os gestos do seu corpo. Estão encolhidos e recolhidos. Se suas mãos pudessem fazer algo por eles certamente lhes enxugaria os cantos marejados. Se ao menos o dedo indicador pudesse reagir ele mesmo se colocaria como um sinal de silêncio em seus lábios e talvez diria: “Escuta, óh lábios, o que os olhos querem falar. Todos nós, os membros do corpo dessa linda menina, estamos em festa, porém, a alma não deixa os olhos festejar".

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Ah coração!

choro

Ai! Ai meu coração! Tanta dor!

Essa imensa flor que fez de ti jardim

E quanto mais em ti se aprofunda

Mas a ti afunda, te mergulha em lugares profundos

E o fundo não existe porque não há chão

Nem teto, nem beira, nem encosta, nem começo, nem fim

É vago, não é alto nem baixo

Nada disso há

Nada disso faz sentido

Houve um dia um precipício

E essa dor  ao te empurrar

Fez inexistir esse início

Nem sabes mais de onde te empurraram

Se é que tu mesmo não te jogastes

Estás se abrindo ao delírio

Como que num parto

E a gestação desse horror ou amor

Não lhe traz outra coisa senão a loucura

Essa mistura envenenada

De uma escolha mal terminada

Dessa atitude não tomada mas deixada aos ventos

Entre a paixão desenfreada e esse amor eterno

Num dia de inverno, sob a calma de braços que também estão nessa estrada

Ah, Coração! Se entregue àquela que te ama

Vá na direção desses braços que te querem bem

Que não quer fazer de você apenas uma noite

Um desarrumar de cama

Mas que quer te tornar eterno posto que não é apenas chama

Ah, coração! Se entregue a estes lábios que te chamam

Que te beijam com todo o desejo de estar contigo

Não apenas um momento, mas quer seguir ao seu lado

Ao relento, suave e tranquilo, e quando vier tempestade

Não fará nenhum alarde senão te deitar no peito que te aconchega

Nessas mãos que te afagam, nesse amor que te deseja

Por toda a vida

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

ENTREMENTES EXISTÊNCIA – (parte 6)

Ah! Menina dos olhinhos pequenos
Foi tentando me salvar dentro de ti
Que me perdi, me destruí
Estive no inferno a céu aberto
Vi satanás bem de perto
Vi queimar o fogo eterno
No coração, no peito, no rim
Tudo tão cambaleante,
Alteradores de consciência
Esse amor que odeio
Essa doença eterna
Já procurei a porta da saída
Mas essa existência é um quarto sem porta
Sem janela
Claustrofobia
Até que a morte nos separe
Estamos casados nessa prisão
Em vão correrei pelas ruas
O mundo todo é uma ilha
A milhas de qualquer lugar
- Alguém me ajude
Você pode me ajudar?
Heim? Você também está preso?
Não consegue sair?
Venha aqui
Pode ser que juntos abramos uma porta aqui mesmo
Não? Não acreditas? Então vá meu caro
Deixe-me aqui, ainda tenho o meu caco para me raspar
Minha língua para salivar sobre a purulência dessa ferida
Me deixe aqui só
Só me deixe e se puder volte logo
Se não puder é melhor não vir
Saberás se pode
Ainda podes voltar a crer
De que vale ganhar o mundo inteiro
E perder a sua alma?

ENTREMENTES EXISTÊNCIA – (parte 5)

Morte
O que é a morte?
Não a minha morte, mas a do que mais amo
Deve ser isso
Morrer é o revés do parto
é arrumar o quarto para o filho que já morreu
Entendimento
O qual não tenho
Entendo, mas nada justifico
Pensam que por causa de um trauma
Podem dizer “Fiz mas não fui eu”
Quanta bobagem, o ato foi seu
O trauma foi só o álibi
O álibi da loucura que torna a alma escura
Sombria em si só, pelo fato de estar só
Trauma, me dê uma gota de desculpa
Para que eu vomite minha sujeira
Para que eu beba meu próprio vômito
E atônito fique como que embriagado
Pelo cheiro estomacal desse ácido
O cheiro de tudo aquilo que ingeri
Que esteja perto de minhas narinas
Que sugue, que cheire, que eu sinta o gosto
Desse desgosto na língua, que lamba
O pus dessa íngua, que rasteje eu nessa lama
E não me rasparei com um caco
Farei como o animal que lambe suas próprias feridas
Não tenho nojo de mim
Apenas bebo o vinho desse pútrido fato
Desse verme alojado em minha pele
Não quero remédio, quero arranca-ló com as unhas
E rir-me dele, as risadas mais bizarras
Rir-me com toda força da minha alma
Na intensidade que ele me fez rastejar no pó
Rir-me-ei dele
A Queda é profunda, mas quem medirá a Salvação?
Se caio é Deus quem me põe de pé
Eu sei que meu redentor vive
E que por fim me levantará
E me porá sobre a força minguante dos meu próprios ossos
Ainda que cambaleante ficarei de pé
Ainda que com as vistas turvas
Dirá “anda”… E andarei, sem forças
Mas repleto de alegria por ter visto um dia
A mão do Senhor

ENTREMENTES EXISTÊNCIA – (parte 4)

Pois feri a mim mesmo sem entender
E a tudo entendia, mas não conseguia ver
Que era meu espinho, meu ninho
Onde me deitava, e me roçava
O meu amor por ti era minha cama
Mas nunca o aceitaras
Te dei uma flor, pisaste quando se irritava
E se irritava por não me compreender
Pensavas que estava indo contra você
Mas apenas brincava, te chamava a atenção
Queria ver seus olhos olhando nos meus
Em ternura, essa doçura…
Quando então julgavas ser um erro meu
Dar a ti o que o meu amor por ti se deu
Não era a flor, nem a poesia
Era eu aquele que ferias
Eu nada entendia
Te dei meu amor, e o que mais, dar-te, eu poderia?
Cheguei a pensar então que a resposta seria “nada”
Não havia nada em mim que poderia dar a ti
Havia dado o meu amor, tudo de mim
Fiquei confuso ao precisar ser outra coisa
Não era o amor, nem a alegria
Era eu que negavas
Eu todos os dias
Um “Nada” me vi eu
Que trilhei o amor como caminho
Mas se voltou contra mim, nada poderia ser tão ruim
Do que o amor se tornar meu espinho
Auto-destruição
A sociedade sabe quem são os “nadas” da existência
E deles se desviam
No entanto, eu, queria-os encontrar
Me ajuntar a eles, praticar sua abjetas práticas
Procurar aquelas sodomitas raízes
Eu, o mundo, e suas meretrizes
Não, não era o pecado que me movia
Era aquele amor que sentia, desprezado
Que me contorcia
que se tornou ódio por mim mesmo
Ah! Aqueles vis me entenderiam!
Lençóis da escravidão para muitos
A cama da destruição para outros
Para mim o desejo de deixar a existência
Já que minha fé foi abalada
Amor…!? Amor que nada
Hora de sair dessa estrada
Não na prática do ódio
Mas na do suicida, que não quer acabar com a vida
Mas com seu modo de existir
Descrença
Abandono
Se não é assim, então como?
Novamente
Parecem aqueles velhos trilhos daquela velha estação
Em que um dia já estive
Eu, algum vento e solidão
Como alguma coisa que já disse
Quis alguém que me fizesse companhia
Esse foi meu erro maior
Nessa estrada, nesse caminho
Caminhei com quem mais me deixou só
Então descobri
Não era eu, nem do que pensei, nada
Era só a insistência de tentar continuar o que já acabara
Clareza
Eu vi… Tudo à minha volta me mostrava
Ah! Acreditei que o amor curava
Fui como remédio em direção à ferida
Mais ainda me machuquei
Porque você não sai dessa? - perguntei-me eu
Olhe para você mesmo e veja
Não sabes sair não é?
Então eu mesmo respondi
Não consegues desistir
O coração não deixa, não acredita
Como poderia ser assim?

ENTREMENTES EXISTÊNCIA – (parte 3)

Dor
Um crepúsculo silencioso e não mais que suaves assobios de pássaros, e não muitos
Poucos, três ou quatro e uma brisa
Um silêncio perturbador e ao mesmo tempo aconchegante
Mais aconchegante do que perturbador
Um sinal porém não uma direção
Um ir sem saber para onde, sabe-se apenas para onde não ir
Uma carência, um frio
Um beijo
Um  carinho estranho, um bom aroma é essencial
Cheiros
Desejos
Um morango, uma hortelã, um amadeirado, um silvestre
Um forte, outro intenso, outro ainda fraco, ou suave
Uma sugestão, não mais do que aquilo que eu mesmo deseje
Não mais do que aquilo que desperte em mim uma ligeira imaginação
Imaginação que fora dos ponteiros parece eterna, uma eternidade dentro da outra
Pele
Essa coisa que me identifica diante dos olhos
E que desejo e que me desejam
Pernas, lábios e sinuosas curvas, curvas expostas e outras escondidas
Sugerem, incitam, completam ou completaria
Esse vazio, essa angústia
Seria perfeito, a satisfação do desejo
Mas é curto, passageiro
Gozo
Não mais que um segundo de eternidade dentro de eternidades de eternidades
Então
Pernas comuns, lábios comuns, curvas sinuosas mas comuns, curvas expostas e outras que não quero ver mais
Uma falha
Um novo desejo, desejo de outras pernas, outros lábios, outras curvas
Outras que me estejam escondidas, ainda não descobertas
E não vou mentir para você
Não são curvas nem lábios
É o desejo
Mas o que o move?
O que move esse desejo?
É desejo por que?
A dor, a angústia, o desespero…?
Não me importa o que é o desejo, apenas o que o move
A dor é ferida; a angústia, caminho até a vida
O desespero, falta de saída

ENTREMENTES EXISTÊNCIA – (parte 2)

Efêmero
“Tudo passa” diriam alguns
Os pessimistas diriam que o pior nunca passa
Os otimistas diriam que tudo está como deve estar, bem
Não gosto de rótulos, não encontro nada que rotule o meu existir
E me diga que deve ser assim ou assado
Diria que tudo passa e torna a ser outra vez
O vazio parece ser eterno mas basta a angústia ou a alegria (não a felicidade)
Para tornar todo o vazio um esquecimento do qual  (me perdoem a redundância)
Não se lembre tê-lo vivido uma vez sequer
No entanto basta a rotina de sucessivos sentimentos intensos
Para torná-lo, o vazio, vívido como se eternamente ele estivesse presente
Talvez ainda mais quando ausente
E então um nada… um espaço de tempo
Um tempo cheio de espaços
Vazio
Perder-se
Não se sabe mais o que é o quê
Nada de leis, nada de regras nem mandamentos
Temer a Deus ainda parece ser o princípio da sabedoria
Uma fumaça desvanescente, um algo visto de longe
Embaçado, obscuro… parece porém não se sabe
Uma possibilidade, uma oportunidade
E o coração vai sentindo que não é por ali
Mas é possível e oportuno que se vá por aí
Mas o coração sabe e nem sei dizer como
Sabe que não me perdi, apenas quero me perder
E porque?
Esses ventos, esses tempos, angústia e vazio
Esse mundo, esse homem do século XXI, essa Era
São poucos os que se encontram, poucos os que se encontraram
E talvez menor seja o número dos que se encontrarão
Sentidos, sentimentos, razão
Amor
Já se sabe que não é um desejo mas um querer
Mas não apenas um querer, uma escolha essencial
Uma essência que vem de longe. E é tão perto!
Talvez seja por isso que pareça tão longe
Nunca vi coisa tão embaçada quanto aquilo que está bem diante dos olhos
O amor, não a dor! A dor é do ego que declina, em vão tenta resistir

ENTREMENTES EXISTÊNCIA– (PARTE 1)

Não sei, acho que os ventos passaram, eu não vi
Uma sensação de um lugar sem lugar
Um chão rodeado de infinitos vazios
Angústia
Preso ao tempo que não se conta
Já nem sei minha idade
Não sei se os anos dos calendários fazem jus
Aos tempos de intensidades que vivi
Quantos anos dura um período de angústia?
Quantas décadas são sentidas num espaço de tempo sem respostas?
O relógio ficou caduco, seus ponteiros estão mortos
E por ironia ainda matam
Está tudo tão perto…!
Mas também os nossos sistemas de medidas não sabem medir existências
Não sabem mensurar nem a distância nem o tempo
entre um olhar cabisbaixo e um sorriso cheio de lágrimas
Mas não sei, os ventos passaram, eu não senti
Atônito fico como quem teve a casa saqueada pela madrugada
Como um ladrão na noite, esse tempo, esses ventos, esses tempos
Há uma saudade em mim que não é romântica
É dor, é carência, é tristeza
E nisso tudo um sorriso como que uma pausa
Entre a fé e o desespero
Amor! Meu amor! Para onde os ventos te levaram?
Eu sei! Não levaram a lugar nenhum
O seu endereço continua sendo o mesmo
É aquele velho problema das distâncias não mensuráveis
Te sinto tão longe! Para onde os ventos te levaram?
Meu amor! Para onde os ventos me levaram?
Será você? Será eu? Quem foi arrastado por esses tempos afinal?
Fomos nós?
E agora?
A sua mão é uma miragem, e eu vou de mãos dadas
Mas esses ventos… Ah! Esses ventos me fazem lembrar
que só existe a minha mão à procura de outra
Talvez tenha que obscurecer os olhos para não encarar o meu estar só
Para não ver que entre meus dedos estão esses ventos, esses tempos
Solidão
Silêncio

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

RELATIVIZADO PELO ABSOLUTO – um ensaio

Relativity_MCEscher_1953

O ser humano é relativo? Isso é absoluto? Segue-se que, digo eu, o relativo só existe em consideração do absoluto, e uma vez que este é extinto o outro também deixa de existir. Assim não há tema sobre relatividade se não há a consideração de um absoluto, seja este qual absoluto for.

Entendo que todos são relativos por haver sempre absolutos, de modo que só há relatividade porque sempre haverão absolutos. Assim sendo, o que move o ser humano é aquilo que ele concebe ou posta para si mesmo como um ponto fixo - um absoluto - e a partir desse absoluto ele está relativizado, pois, viverá de acordo com o seu ponto absoluto pelo qual se entende a si mesmo, entende de onde veio e para onde vai. Assim alguns dirão “não há absolutos” e assim está posto o seu absoluto na não absolutização de coisa alguma, nisso se satisfará sua existência na relação consigo mesmo, com o outro e com as variegadas e multiformes facetas da vida: seja amizade, paternidade, trabalho, diversão. (Por fé digo apenas aquilo que move a existência básica de um ser humano, assim se pode crer que não haja absolutos e por qualquer coisa está relativizado, pelo nada em direção do nada, logo o paradoxo está colocado, pois pelo nada está relativizado, assim a relativização perde seu sentido tomando seu sentido no nada e para o nada. Ainda assim tal ser existe como relativizado diante de um absoluto. Assim o ser humano é relativizado pela fé que o move, sendo tal fé inconstante também será relativizado pela circunstância que o oprime).Tudo estará subjugado pela sua fé, crença, cosmovisão ou do que quer que chamem: eu chamarei tal de “ponto absoluto”. Da mesma forma um ateu que diz “não há Deus” viverá a partir desse ponto absoluto, e é esse ponto que o relativizará fazendo com que não viva senão de acordo com uma ausência de divindade, pois, como crê ou como entende, “não há Deus”.

A minha proposta aqui, nesse texto, será sempre caminhar o tema em torno do meu absoluto: Cristo. Como disse no parágrafo anterior, todo absoluto relativiza aquele que pelo absoluto de sua fé relativizou-se a si mesmo. Assim quando se diz “Amém” ao Evangelho por ele se está relativizado de modo que tudo o que Cristo disse que deveria ser será posto em prática por aquele que creu Nele. Não é um exercício racional, mas é um “Amém” movido pela fé. Todo aquele que de modo racional se subjuga à Cristo, sobre a dúvida se posta como indivíduo diante dele, pois a razão está sempre num diálogo duvidoso com a existência e com a fé. Assim Cristo será a mediação de todas as relações do indivíduo que nele creu com todas as outras coisas, pessoas e situações da vida. E a pergunta para tudo isso seria: como Cristo viveu isso? O que Cristo fez diante disso? E a resposta dessa pergunta será a resposta dada também pelo indivíduo à situação em que se encontrar. Tal indivíduo estará sempre relativizado pelo ponto máximo de sua fé, nesse caso, o que Cristo viveu.

Uma vez que creio no Evangelho e o tenho como ponto absoluto no qual toda a minha existência está subjugada por ele, relativizo-me exatamente no ponto onde estabeleço tal absoluto, pois, por ele (o evangelho) mediarei toda a minha forma de existir, de modo que serei por ele influenciado desde a maneira como me assento às refeições à maneira como trato o meu próximo. Ou seja, não será mais uma vivência a partir de outro ponto (por exemplo, o ego) mas será o Evangelho que estabelecerá o meu modo de existir na vida. É só assim que, em havendo alguém que me fira um lado da face, lhe dou a outra; só assim que, estando sobre a obrigação arbitrária daquele que me leva com ele a andar um milha, ando duas; é só assim que ao invés de levar meu próximo ao tribunal o perdoo. Isso tudo porque estou relativizado diante de tudo e de todos por tudo aquilo que Cristo disse que seria o que é para ser, e que pelo absoluto de si mesmo, relativizou-me.

Se por Cristo estou relativizado toda minha existência está relativizada, então posso chegar à máxima de que “não mais vivo eu, mas Cristo vive em mim”, de modo que não ajo senão segundo Cristo por Nele ter posto a minha “confiança”, “fé” de que ele é o Absoluto, e fora dele nada há. Quando digo “não mais vivo eu mas Cristo vive em mim” submeto todos os meus pensamentos, sentimentos, pulsões, desejos, vontades àquilo que ele diz “sim” ou mesmo diz “não”. E é só assim que poderei dizer: Cristo vive em mim. Pois já não estarei sob nenhum absoluto que não seja Cristo. Poderia ser a moral, a ética, o ateísmo, o Budismo, Hinduísmo, capitalismo, e por esses estaria relativizado e subjugado a ser conforme o mandamento de cada um desses pontos que podem também serem estabelecidos como pontos absolutos. Dizer que se pode ter mais de um absoluto seria dizer que se tem dois deuses, hora agradando a um e desagradando o outro, hora fazendo o contrário, nunca sendo possível seguir dois em sincronia harmônica, seria algo como “ânimo dobre”.

Porém, uma vez que posto o meu Absoluto por ele estou relativizado para o bem ou para o mal. De modo que quando posto um absoluto e enquanto na direção dele caminho, para o bem está posto, porém quando contra tal absoluto caminho, para o mal está posto. No caso do Evangelho, quando para o bem, a alegria, quando para o mal, o pecado. É como estabelecer uma lei que quando a favor dela tenho a vida, quando contra ela tenho a condenação. E alguém diria “Mas o Evangelho não me condena em nada”. Diria eu, pobre alma. Em tudo o Evangelho nos condena de outra forma Cristo seria dispensável, se Ele serviu como propiciação foi por condenar o mundo, todos nós. Então não nos condena mais porque já condenou o pecado na carne de Cristo? Não, estamos sendo condenados o tempo todo, assim diz a angústia e o desespero. Assim dizem as crises e as infindas transformações. Estamos sendo condenados o tempo todo, é por isso que estamos sendo salvos, caso contrário já não necessitaria dessa diária salvação. Assim quando posto um Absoluto, por ele estou condenado ao bem e ao mal. E aqui abre-se um precedente de que, para o interesse de cada um, para que o mal não seja mal e seja algo que pode-se relativizar em bem, cada qual nesse ponto deixará de ser relativizado pelo Evangelho e relativizará o Evangelho, uma inversão demoníaca. A doença é esperar experimentar o bem naquilo que o Evangelho diz que é mal.

Quem está relativizado pelo Absoluto, nesse caso, o Evangelho, por ele está subjugado e mediado nos âmbitos de toda a vida, de modo que não há como dizer “tenho certeza sobre Cristo, mas tenho dúvidas sobre a vida”. Toda a vida estará relativizada pelo Absoluto, uma vez que toda ação e atitude estará mediada por aquilo posto como ponto absoluto, ou seja, pela fé no Evangelho.

Mas é possível estar absolutamente relativizado pelo absoluto?

“Amém” seria a única palavra capaz de tornar isso possível, pois encerra nela um “sim” que subjuga toda e qualquer forma de existir fazendo com que diante de todas as circunstâncias da vida estejam submetidos ao Objeto mediador da fé, o Absoluto.

Uma vez tendo o Evangelho como absoluto, todo aquele que diante de uma situação de decisão se colocar ou for colocado tomará aquela mediada pelo próprio Evangelho, seguindo de modo absoluto aquilo que Cristo postou como aquilo que é para ser.

Então alguém pergunta: Como seria isso possível? E se eu duvidar que isso seja de fato a coisa certa a se fazer? Então dará provas que não se está relativizado pelo Evangelho, podendo até dizer “sim” para algumas coisas que nele há e que intermedeie as relações com o próximo e com a vida porém seu sustentáculo maior será sempre o da dúvida, e aquele que pratica o Evangelho em dúvida o pratica numa relação qualquer que não a fé.

Quem está relativizado pelo Evangelho jamais peca? De fato a resposta é “não”, porém aquele que peca tendo o Evangelho como seu absoluto, peca como quem de forma não-deliberada comete pecado. Assim peca, mas não peca como aquele que está perdido para uma relação absoluta com Cristo, ou seja, contra Cristo está absolutamente relativizado.

Abrindo um adendo aqui, exatamente nesse ponto: Pode ser que alguém que esteja relativizado pelo Evangelho não esteja absolutamente relativizado por ele, assim não se está absoluto no Evangelho mas de forma relativa está relativizado por ele, posto que está por ele e por outros pontos relativizado. Assim quem está em parte relativizado pelo Evangelho não o cumpre em sua absoluta obra, mas em forma relativa pois por ele não está relativizado absolutamente. Juntamente com ele (o evangelho) existem outros senhores, como explicaria melhor Romanos 7, quando diz que existe esse “’outro’ que habita em mim”.

Vale aqui uma pequena abertura de um outro assunto: Por muito tempo foi ditado pelas religiões que pecado traduz-se em conceitos culturais morais, pelos efeitos que tais atos causam nos sentidos estéticos sociais. Sendo assim tais valores morais são inconstantes posto que as sociedades mudam de pensamentos e de parâmetros morais de acordo com a sua época e seus interesses.

O pecado contra Cristo não é o cigarro, a bebida nem o riso; é a falta de reverência para com o próximo, posto que, neste, Deus escolheu fazer sua habitação. Pela fé digo isto, claro, pois não diria de outra forma. É só pelo fato de ter o Evangelho como Absoluto que posso dizer isso, de outra forma diria outra coisa, assim agiria também de outra forma para com tudo e todos. Tudo o que relativiza aquele amor com que Cristo amou a todos de fato é pecado. E todo aquele que se coloca como pecador para ser des-culpa-da-mente relativizado pelo pecado, está perdido, pois contra o amor a Deus e ao próximo, peca.

MEU AMIGO, ALGUMA COISA ESTÁ MUDANDO

Alguma coisa está mudando meu amigo E não sei bem o que é Mas se lembra quando tudo apenas se repetia Então mudanças já são boas...